Bartolo Burtopelo é um bicho-papão que mora em cima do telhado da casa de uma família camponesa. Cada familiar está fazendo uma atividade diferente fora de casa, enquanto isso, um menino fica sozinho, cortando pão. Até que Bartolo Burtopelo bate na porta.
O menino atende à porta e fica com medo de que o bicho-papão o mate. Contudo, Bartolo Burtopelo pede pão picado, depois manteiga, sal, toicinho e uma colher. Para, assim, fazer miga de pão (um prato típico de algumas regiões da península ibérica). Enquanto os dois comem, o menino permanece atento ao bicho-papão com receio de suas intenções.
Passando pela parlenda do bicho-papão e chegando a uma das versões mais antigas de chapeuzinho vermelho, em que a personagem se salva sozinha, a história tem um clima bem-humorado e nada hostil. Uma criatura que deveria dar medo pode acabar cativando quem lê. Com os dentes a mostra, a falta de presa o faz parecer inofensivo. Seu rosto amigável leva a considerá-lo como um malvado favorito.
Fica a cargo do leitor identificar a intenção de Bartolo. Enquanto o menino morre de medo do bicho, ao longo da leitura, ele pode parecer bondoso. Aliás, que bicho-papão pede algo em vez de ordenar e ainda cozinha para a criança não se queimar? É um monstro gentil ou prefere miga de pão a criancinhas? Quando o menino foge, Bartolo coloca seus cães à caça dele. Seria por perseguição ou por preocupação? Mas quem tem coragem de ficar para tentar descobrir?
Da mesma forma que Alfred Hitchcock aparecia em seus filmes como uma assinatura, duas personagens representam o autor e a ilustradora. A dica de quem é quem está na última página. Aproveite e leia a ficha catalográfica, você vai se deparar com uma marca do humor refinado do autor.
Para tentar se safar do bicho-papão, o menino utiliza a mesma estratégia de chapeuzinho vermelho. Diz Peter O` Sagae que seus bisavós camponeses conheceram a chapeuzinho... de verdade.